Entendendo o balanço de nutrientes na alimentação natural

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Entendendo o balanço de nutrientes na alimentação natural
Entendendo o balanço de nutrientes na alimentação natural

É comum entre os tutores que oferecem a alimentação natural a dúvida sobre o balanço nutricional.

Como saber se tudo o que você está colocando na tigela do seu amigão está de acordo com suas necessidades nutricionais? Como ter certeza de que está entregando a qualidade que ele merece para crescer e se desenvolver de acordo?

Entendendo o balanço de nutrientes na alimentação natural

Quando pensamos em dieta, logo temos em mente a quantidade de calorias que podemos ingerir. Cães e gatos também têm necessidades calóricas.

Veja: em média, um cão adulto, de pequeno porte (5kg) com nível de atividade regular deve ingerir até 280 kcal/dia, enquanto que um cão adulto de grande porte (30kg), também com nível de atividade regular, deve ingerir em média 1100 kcal/dia.

Para se ter uma ideia, a ração entrega em média 4.000 kcal/dia, enquanto que a alimentação natural é muito menos calórica, entregando em média 1.600 kcal/dia.

Permita-me te contar mais. Sabia que quando um cão corre a atividade metabólica dele se altera e ele passa, assim, a ter outra necessidade calórica? O mesmo acontece com a gente. É por isso que os atletas profissionais, por exemplo, precisam de muito mais carboidratos em suas dietas.

E nos casos de doenças que necessitam de restrição de calorias?Quais alimentos introduzir e quais retirar para obter as mesmas proporções nutricionais?

Nutrição é uma ciência meticulosa, que tem uma aliada extremamente exigente, a matemática. Impossível brincar com ela. Por mais que se tenha um ‘padrão nutricional’, é consenso entre pesquisadores e profissionais de saúde animal, a necessidade de olhar para cada espécie como um indivíduo único, com necessidades específicas durante diferentes etapas de suas vidas.

Parâmetros existem para nortear as dietas, mas somente você, tutor, é quem melhor conhece a realidade do seu animal de estimação. Portanto, ninguém melhor do que você para dizer, dentro dos alimentos sugeridos pelo médico veterinário, zootecnista ou nutrólogo, os que mais fornecem a energia que seu bicho precisa no dia a dia.

Seria muito mais simples passar uma receita pronta, mas prefiro que você tenha conhecimento do que é realmente importante, porque a nutrição é a base da saúde de todo ser vivo.

E o balanço nutricional? Eu chego lá em breve, antes preciso que reflita. Fisicamente, seu cão ou gato se parece com você?

Não, né?

Pois bem, você tem em mãos um carnívoro domesticado e super adaptado para conviver com humanos. Que sorte a sua!

Se tivesse adotado uma cobra, qual a primeira pergunta que faria a si mesmo? Tenho certeza de que seria: “o que ela come?”

A indústria de ração é tão voraz que nos tirou esse ‘peso’ das costas e quando adotamos um cão ou gato, logo compramos um saco de ração e pronto, questão número um resolvida, certo? Nada disso! Quem é que pode garantir nutrição com um pacote de macarrão instantâneo, quero dizer, ração!?

Não é minha ideia falar sobre as rações comerciais aqui, mas vou deixar uma informação importante: sabia que não há regulamentação para controlar a quantidade de carboidratos nas rações comerciais?

Se tiver um pacote de ração por perto, pegue-o, por favor, cheque na lista de percentuais e veja se identifica o percentual para carboidratos. Leia esse artigo sobre → Ração sem grãos ←

As empresas não são obrigadas a informar, e isso porque, durante o processo industrial, esse grupo alimentar entra de diversas formas no processamento do produto, porque é o açúcar produzido durante a quebra das moléculas de carboidratos como o amido, quem dá o toque final no formato fofo da ração.

Por uma questão puramente comercial, os órgãos regulamentadores, junto da indústria de comida animal, decidiram que não é preciso informar ao tutor a quantidade de carboidratos, assim ninguém se assusta e eles vendem.

Voltando ao seu carnívoro com hábitos onívoros, no caso, o seu cão. E no seu carnívoro por excelência, o seu gato. O que eles comem?

Eles comem carne. Simples assim.

Pense num gato caçando um rato. O que o rato fornece para o gato?

Carne, miúdos, miolos, sangue, ossos, cartilagens e o que mais estiver dentro de sua barriga em processo digestivo (rico em enzimas porque o ratinho já tinha começado a digestão do seu jantar.

Lembra quando falamos das enzimas? Se não, depois corre lá no nosso artigo → A Importância das enzimas e a sua relação com a alimentação natural ←).

Quantas presas seu cão ou gato come por dia? Quantas vezes?

Geralmente, eles comem 2 a 4% de seu peso corporal e comem uma vez ao dia. Novamente aqui uma observação: estou falando de um animal saudável.

Um cão obeso precisa de controle, assim como um animal comprometido pode necessitar de menores quantidades de alimento, mais vezes ao dia. Aliás, gatos não param nunca de produzir suas enzimas digestivas, portanto, eles precisam comer mais vezes ao dia, porções fracionadas.

Cães aceitam jejum e até se beneficiam dele. Gatos não jejuam.

Alimento fresco e preferencialmente crus são os melhores para fornecerem nutrientes vitais ao seu animal de estimação. O simples congelamento, necessário para inativar parasitas nas carnes, por exemplo, reduz em 5% as propriedades nutricionais desse alimento.

O cozimento é o pior deles, podendo reduzir em até 75% e o que mais se perde são as vitaminas.

Pronto! Agora que você já sabe alguns aspectos importantes da dieta de seu animal de estimação, vou te contar a importância de cada grupo alimentar.

Os Grupos Alimentares

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Proteínas

São os compostos orgânicos mais abundantes no organismo. Vitais para saúde da pele, tecidos, pelos e fundamentais para a manutenção do sistema imunológico.

Proteínas são formadas por aminoácidos.

Existem dois tipos de aminoácidos, os essenciais e os não essenciais. Segundo a PhD Dra. Lew Olson, aminoácidos essenciais devem estar presentes na dieta dos carnívoros. Em quantidades adequadas, são eles os grandes responsáveis pelo balanço dos nutrientes.

Grãos e vegetais são ricos em proteína vegetal, e não são, portanto, ideais como única fonte de proteína para cães e gatos porque eles não possuem em sua cadeia dois importantes aminoácidos como a carnitina e a taurina.

Proteína animal, como por exemplo, as carnes de vaca, porco, aves, peixes e ovos, são proteínas ‘completas’ para os carnívoros porque são perfeitamente assimiladas no interior de seus intestinos delgados.

Gorduras

Ao contrário do que se pensa, a gordura animal, em seu estado natural, sem cozimento, é saudável para cães e gatos. Elas são, de fato, tão vitais quanto as proteínas.

Gorduras são importantes para assimilação de vitaminas, protegem a pele e as fibras nervosas do corpo, ajudam o coração, fígado e rins, mantém os pelos saudáveis, reduzem inflamação, promovem mais calorias por gramas do que carboidratos ou proteínas, tornam a comida saborosa e ajudam a saciar o apetite, são excelentes fontes naturais de ácidos graxos, entre eles ômegas 3 e 6.

Carboidratos

Com o advento das dietas comerciais e o uso de amido (carboidrato) na sua composição, passou-se a assumir que os nossos animais de estimação precisavam desse componente nas suas dietas.

O fato é, a natureza dos nossos cães e especialmente gatos, os desenhou de tal forma que eles são perfeitamente capazes de transformar proteínas e gorduras em energia, ou seja, não precisam do carboidrato para isso.

Porém, é preciso lembrar que a ciência não para nunca e hoje, em termos de nutrição, todos os holofotes estão voltados no que chamamos de alimentos nutracêuticos, ou os alimentos funcionais, ainda, aqueles que fornecem nutrientes importantes para determinados organismos em determinadas situações.

Com isso, alguns autores passaram a adotar a oferta de vegetais cujo índice glicêmico, ou a quantidade de carboidrato fosse aceitável e até mesmo ‘funcional’ para a manutenção da saúde.

O segredo aqui é a ponderação. Sem exageros, a oferta de carboidratos passou a ser tolerada nas dietas.

Pondere e não exagere

Como já falei, cada cão e cada gato é um indivíduo com necessidades específicas, e exatamente por isso, não acredito que exista uma regra única para todos eles.

Acredito no bom senso e pelo que vimos, o bom senso é oferecer em maior quantidade o que eles foram designados por natureza para digerirem. Sim, refiro-me à carne. Não somente os músculos, como também os órgãos, as tripas, os ossos (sempre crus), e as gorduras.

Repito sempre: pense na presa.

Se considerar o que ela oferece para imitar no prato do seu amigão, você vai chegar num balanço bom. Mais ou menos assim, não vai preparar um “prataço” de fígado com dois ou três pedacinhos de carne de músculo e nenhum osso carnudo (aquelas partes com ossos mais moles e fáceis de quebrar com bastante carne grudada, por exemplo, asas de pato).

Aliás, Dr. Tom Lonsdale, um dos principais autores de dieta crua recomenda não mais do que 5% da composição diária do prato contendo fígado, por seu alto teor de vitamina A.

Dra. Karen Becker, outra super autora, diz que o ideal é não oferecer mais do que 25% de vegetais.

Todos, sem exceção, falam da variedade, da importância do cálcio e do fósforo, presentes nos ossos e do uso de um suplemento mineral caso não haja ossos na composição da dieta.

Dr. Peter Dobias recomenda pelo menos metade do prato de carne de músculo, com a outra metade dividida entre vegetais e ossos carnudos.

Omega 3 é palavra de ordem, por ser uma gordura essencial e fundamental na relação de outra gordura presente nas carnes, especialmente as das aves, o Omega 6.

Ofereça sempre de acordo com a indicação do seu veterinário. E lembre também de incluir os peixes na dieta do seu amigão.

Eu tenho a impressão de que já falei sobre probióticos em outro artigo, de toda a sorte, nunca é demais relembrar: cuide das bactérias. Queijo cottage, kefir ou mesmo iogurtes são excelentes fontes naturais de probióticos.

A oferta de alimentos frescos e adequados às necessidades de seu cão ou gato, junto da manutenção de sua flora intestinal vai dar à ele o equilíbrio necessário para manutenção da boa saúde.

Está em suas mãos!

Faça sua pesquisa. Informe-se. Estude. Procure pelos autores citados aqui, e vá além, tem muita gente boa por aí ajudando tutores a operarem milagres!

Não há nada que não podemos fazer por nossos bichos.

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